quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A Credencial e a Compostela

A Compostela!


E pela primeira vez, uma credencial completa!





O caminho em bicicleta!


Agora que concluí o relato desta aventura, de fazer o caminho de Santiago em bicicleta, acho que dá para perceberem porque não conseguimos escrever durante os dias em que andávamos a pedalar, não dá?

Quero contar-vos, para terminar, que gostei muito desta experiência da bicicleta, antes de ir, pensei que ia ser ainda mais difícil, por isso foi muito bom conseguir e nunca cheguei a Santiago tão bem, fisicamente! Desta vez, doíam-me os musculos, como é normal, mas estava fixe, sem calos e só isso já é muito bom!

A parte menos boa da bicicleta é que passas muito rápido pelo caminho, se não tiveres cuidado, não dá para apreciar o caminho, nisso concordo com a Sandra, mas isso também se transforma numa vantagem, nos sítios em que o caminho não tem nada de especial, como por exemplo ao chegar a Santiago, há uma altura, em que o caminho contorna o aeroporto todo e isso não tem nada de interessante, aqui soube bem ir de bicicleta e despachar esses km...

Ao contrário do caminho a pé, em que acompanhas outros peregrinos, fazes amizades, aqui é tudo mais rápido, praticamente só falas com quem também vai de bike, porque os peregrinos a pé ficam logo para trás e só durante a manhã é que se encontram muitos...

Valeu a experiência! Tenho muita pena que os meus colegas tenham desistido do blogue, porque eles também devem ter muita coisa para contar, de certeza que sentem as coisas de maneira diferente... pode ser que ainda se animem...

Mais uma vez, obrigado a todos os que nos acompanharam ou pelo menos, se interessaram, a todos os que telefonaram e até aos que não fizeram nada, mas pensaram em nós... quem ainda não experimentou, disponha-se a fazê-lo, vão ver que vale mesmo a pena...

Até sempre....

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Fotos do dia 06/06/2010

Porta do Caminho Francês




Praça do Obradoiro



A fila para a Porta Santa



O interior da Porta Santa



Que alegria! A Porta Santa!



Sandrita, até nos esquecemos do que passámos!


Monte do Gozo a Santiago de Compostela (06/06/2010) - 6,31Km




Foi espectacular! Sabem o que é acordar e saber que só faltavam 6km para chegarmos a Santiago? é muito bom! Depois de nos termos rebentado todos no dia anterior, lá acordámos cheios de ânimo para irmos para Santiago! Imaginem que nem tomámos o pequeno-almoço!


Os peregrinos ao chegar a Santiago, devem dirigir-se à Oficina do Peregrino, na Rua do Vilar, para receber a "Compostela" e depois de ter a compostela, então vamos para a Catedral cumprir os rituais e mais importante que isso, participar na Missa do Peregrino. Como já conhecíamos a "vida de peregrino" sabiamos que as"collas", as filas, são muito grandes, por isso saímos do Monte do Gozo, por volta das 7.30h e fomos direitinhos à oficina do peregrino. A fila não era muito grande, mas já devíamos ter umas 50 pessoas na nossa frente. Lá fomos guardando vez, enquanto uns iam comer, outros ficavam e finalmente chegou a nossa vez! Mais uma Compostela, a 3.ª para mim e para o Fernando, para a Sandra acho que foi a 4.ª...


Já com a Compostela em nosso poder, fomos arranjar um parque para as bikes, pois não podíamos entrar com elas na catedral. Depois de as deixarmos arrumadinhas, no parque Joan XXIII, dirigimo-nos para a Praça do Obradoiro, e foi aqui, ao sair do parque, depois de 292.92Km em cima da bicicleta, por caminhos e pedras, entre subidas e descidas, que eu vim cair! Sim, perceberam bem, caí! Tropecei no passeio, quando ía distraída arrumar uns papéis na carteira e esfolei os dois joelhos e as mãos! Incrível, não é? Acho que depois destes dias deixei de saber caminhar, já não sabia andar sem a bike!!! :=)


Fomos depois para a praça da Quintana, onde fica a Porta Santa, que foi aberta, no séc. XVII, perfurando a velha parede românica de forma a criar um acesso directo desde a Praça até à cripta. No pórtico, a presidir o conjunto, está a imagem de Santiago e dos seus dois discípulos, Atanásio e Teodoro com roupas de peregrino. A Porta santa só abre durante o Ano Santo, na tarde do dia 31 de Dezembro. Também para entrar aqui é preciso suportar uma grande Colla... mas foi bom, relaxar, fotografar, acho que até nos esquecemos do que sofremos para lá chegar :=) Depois de entrar, estivemos na Catedral, onde abraçámos o apóstolo, visitámos o túmulo e assistimos à Missa do Peregrino, que é sempre um momento emocionante! Com direito a ver o botafumeiro e tudo!!


E assim, se cumpriram todos os rituais de um peregrino, que só quem experimenta consegue avaliar o valor que tem!


Depois, do almoço, mais uma aventura, para conseguirmos meter as 3 bicicletas e 7 pessoas no jipe, mais as tralhas todas... mas conseguimos! E graças a Deus e ao apóstolo Santiago, fizemos uma boa viagem de regresso até casa...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Fotos da etapa do dia 05/06/2010

Queres dar de beber à vaca? :=)

A senhora dos queijos - Árzua


A Maria



Fonte do Peregrino

Cruzeiro de Lameiros

Saída de Portomarin





Portomarin a Monte do Gozo, (05/06/2010) - 94,69 km



Após a noite no albergue de Portomarin tomámos o pequeno-almoço na mesma "tasca" onde jantámos e depois das despedidas, partimos cheios de ânimo. O dia estava fresco, com uma espécie de chuva miudinha, animados e com vontade de dar tudo po tudo lá atravessámos o Rio Minho, para nos metermos numa subida fantástica! daquelas em que a bike puxa mais para trás do que nós para a frente!

O caminho é muito familiar de agora em diante, por isso, deixamos a fase da descoberta dos primeiros dias, para a fase de reviver um ou outro recanto e recordar peripécias já vividas :=) Muito bom! Neste dia começámos a pôr a hipótese de chegar ao Monte do Gozo, isso dáva-nos o conforto de, no domingo, fazer apenas 6km e chegar a Santiago com tempo para fazer tudo... A Sandra começou a sentir-se mais confiante e a acelerar! Para mim, havia um factor muito importante que me impelia a pedalar, hoje chegavam as minhas filhas e eu queria muito vê-las, tinha tantas saudades delas!
Em Ligonde, aparece no caminho a "Fuente del Peregrino", foi um momento excelente esta paragem! Para além da água, têm café, chá, tudo organizado por pessoas que estão a fazer voluntariado, estava lá uma voluntária, a Maria, que era provavelmente a pessoa mais simpática que já conheci, ela sorria como se já nos conhecesse, como se para ela, fosse muito importante ver-nos! sabem o que sentimos quando encontramos um amigo de longa data, que já não vemos à muito tempo? Pois foi assim que ela agiu! Eles tinham também um espaço de meditação "Crucecaminos" onde estavam expostas frases de salmos, muito bonito!
Revigorados com esta paragem lá fomos pedalando até Palas de Rei, onde estivemos a reforçar o pequeno-almoço e depois fomos almoçar a Melide, o tradicional polvo, na "Pulperia Ezequiel", como não podia deixar de ser! Sentámo-nos na mesa de um velhote inglês (que se estava a fazer à Sandra!), comemos muito polvo, bebemos umas malgas de vinho tinto e lá partimos animados!
Em Boente, 5km depois de Melide, há uma igreja de Santiago, onde costuma estar um padre a carimbar as credenciais, que nos pergunta sempre de onde somos e é incrivel, porque depois da nossa resposta ele diz sempre "Portuguesitos, oh Portuguesitos!"... mas desta vez não estava lá, devia estar a dormir a siesta :=)
De Ribadiso até Árzua, são apenas 3 km, mas são sempre a subir, ao entrar na vila, mais uma vez esteve o Fernando a dar assistência a uma peregrina que desmaiou...entretanto lá veio a ambulância e nó seguimos até á praça onde está a sr.ª dos queijos, já a conheço à tantos anos e os queijos não acabam!
Aqui nos deliciámos com um gelado a ganhar força para os últimos 40km! Nesta altura, era mais ou menos meio da tarde, telefonaram os meus pais, que já estavam em Santiago, íam-se instalar no hotel e depois vinham ao nosso encontro. Vinha eu, sózinha, numa parte do caminho em que o triho é paralelo à estrada, ora na margem direita, ora na esquerda... Foi uma coincidência incrivel! Ia a atravessar a estrada, quando vejo surgir na curva o jipe, com eles! Só me lembro de atirar a bicicleta para o chão e começar a acenar-lhes, foi espectacular! As minhas meninas! Dei-lhes um abração e lá ficamos à espera que o Nando e a Sandra aparecessem...entretanto eles chegaram e depois de mais um bocadinho de conversa lá foram embora, acho que eles ficaram mais desanimados do que nós, porque a esta hora já devia passar das 18 horas e nós ainda estávamos a 30km... mas cheios de ânimo! A esta hora, já só pensávamos no Monte do Gozo... íamo-nos preparando psicologicamente para chegar lá de noite... e assim foi! Chegámos à placa que diz Santiago, já ao sol posto! Quem nos tirou esta foto, foi uma rapariga da Nova Zelândia, que tinhamos conhecido uns km antes, eram duas, lá iam sózinhas a curtir o caminho, não sabiam onde iam dormir, mas elas tinham tenda, por isso não estavam preocupadas, a verdade é que não sei onde dormiram, mas vi-as na missa do peregrino!
Daqui em diante, foi sempre andar, naquelas subidazorras que circundam a zona da TV Galiza, sempre os 3 juntos, foi engraçado, estavamos bem dispostos porque já tinhamos andado tanto, a Sandra sempre a dar notas :=) que fixe...Chegámos ao Monte do Gozo, já passava das 22h, nós sabíamos que os albergues fechavam a essa hora, mas também sabíamos que no Monte do Gozo o albergue não fecha, por isso estavamos confiantes que íamos conseguir uma cama... foi à chegada que ia morrendo, quando chegámos, absolutamente esgotados, fomos até ao albergue e o segurança nos disse "Há camas livres, mas o hospitaleiro já saiu e eu não vos posso hospedar!" Vocês imaginam o que sentimos, depois de 94Km a pedalar?! Só vos digo, chateámos tanto o homem, que ele ficou com pena de nós e lá se decidiu telefonar ao hospitaleiro, mas ele não atendia... quando atendeu, ele virou-se para nós e disse "Estão com sorte, ele ainda anda por aqui!" Aqui sim, senti um Goooozo! Lá veio o hospitaleiro, que começou a olhar para as nossas credenciais e disse "Vocês as duas, vieram desde Portomarin hoje?" e nós, "Viemos!" Ele só nos disse "Voces são uma heroínas!" Ficámos tão orgulhosas! Todos os peregrinos nos davam os parabéns! Ficámos num quarto com outros portugueses, depois de um banho, fomos até à cafetaria comer qualquer coisa e por fim descansar... neste momento tinhamos já feito 286,61km, divididos por 29h57 minutos a pedalar, mas havia uma alegria imensa dentro de nós, só nos faltavam 6km...

Fotos da etapa do dia 04/05/2010

Igreja de Santiago - Triacastela

Vista do Mosteiro de Samos


Entrada para o albergue de Samos


Foto tirada por um peregrino...


Monumento ao peregrino - Saída de Samos

Igreja de Portomarin

Algures no caminho!

Quem é que consegue andar aqui?!


Alto do Poio a Portomarin, (04/06/2010) - 62,54km


Reconfortados com a noite bem dormida no hostal, que foi cara e ainda por cima não teve direito a pequeno-almoço! Lá estivemos a preparar os alforges para partir… hoje prevíamos uma etapa já sem tantas subidas mas alternando entre altos e baixos, agora era a descer e lá nos lançamos no caminho, para ir tomar o pequeno-almoço onde aparecesse oportunidade …
O caminho é bonito, mas á medida que fomos descendo a paisagem começou a alterar, aproximando-se mais do nosso Minho, porque agora já estávamos na Galiza.
Neste terceiro dia começou a gerar-se algum “nervoso miudinho” entre nós, sem ninguém falar sobre isso, fiquei com a sensação que havia alguma tensão no ar, era 6.ª feira e ainda estávamos muito longe… acho que o stress começou aumentar porque a Sandra achava que estávamos a andar muito depressa e o Fernando por seu lado achava que estávamos a andar muito devagar e eu, ficava ali no meio… por um lado apetecia-me andar mais, pelo menos nas descidas e plano, mas por outro compreendia que não era possível, a Sandra estava mais cansada e começou a ficar com uma alergia que a incomodava e eu também me sentia cansada, hoje parecia mesmo que a minha bike não andava de maneira nenhuma, vim a descobrir mais tarde que o alforge tinha saído do sítio e andei toda a manhã a trilhar o alforge na roda, até rasgar, por isso ela não andava! :=) A manhã foi um bocado tensa!
Só parámos em Triacastela, depois de 13,6km, vocês que me conhecem sabem que eu preciso de tomar o pequeno almoço logo que me levanto, por isso imaginem o que sofri... :=) No pequeno-almoço foi a ultima vez que vimos os três portugueses da subida de "La Faba". Nesta fase o caminho proporciona uma opção de escolha, ou íamos por San Xil ou por Samos. Optámos por ir por Samos, porque já na véspera tinhamos pensado em ir lá dormir, mas ficámos muito longe.
Em Samos, o albergue é num mosteiro beneditino muito bonito, estivemos lá um bocado, almoçámos, foi muito bom! Uma coisa engraçada é que nós parámos as bikes á porta do restaurante e não estavam lá mais, quando saímos havia montes de bicicletas, quase que não conseguíamos tirar as nossas.
De volta ao caminho, com direcção a Sarria, encontrámos uma zona de descanso, no km 108, muito fixe, era uma sala, com bancos e mesas e cheia de máquinas automáticas, com café, comida, chocolates, enfim... tudo o que se lembrem que há neste tipo de máquina :=) a sala está decorada com fotografias do caminho, não sei quem se lembrou disso, mas foi uma ideia excelente!
Sarria é a cidade onde comecei o caminho, as duas vezes em que o fiz a pé. É uma cidade engraçada, pequena, que tem normalmente muitos peregrinos porque é o último sítio onde podes começar o caminho, para seres considerado peregrino, porque tens que fazer no mínimo 100km a pé ou 200km de bicicleta, para receberes a Compostela, então, muita gente opta por começar aqui. A saida de Sarria faz-se por um caminho que circunda o cemitério e que também tem umas subidas jeitosas. A partir daqui o caminho passou a ser-me familiar :=) De todas as vezes que fiz o caminho, saí de Sarria de noite, porque quando andamos a pé, normalmente toda a gente sai muito cedo para chegar cedo aos albergues e assim conseguir uma cama para dormir, de maneira que, sair de Sarria de dia foi novidade.
Começámos a fazer planos para chegar a portomarín, que eram mais ou menos 30km e lá fomos agora um bocadinho mais leves da tensão da manhã, mas ainda "stressados"...
A Sandra já fez o caminho várias vezes, mas nunca o fez com dias contados e desta vez tinha que ser... começámos a ver que se não acelerássemos não íamos chegar a Santiago no domingo, pelo menos, não chegaríamos lá a tempo de fazer os rituais próprios dos peregrinos e nós tinhamos mesmo que vir embora no domingo... a Sandra a dada altura disse que não saía de lá sem fazer isso, nem que ficásse lá sózinha, mas isso não fazia sentido... isto tudo associado ao cansaço dos últimos dias, fez-nos andar mais rabugentos, mas nada de especial...

O objectivo era agora Portomarín porque o albergue é muito grande e aqui inhamos esperança de conseguir dormida no albergue, porque as dormidas em hotéis já nos tinham dado cabo das finanças :=( Chegámos a Portomarín ao final do dia e conseguimos lugar para dormir ainda a horas decentes. Depois do banho (para mim de água fria, para a Sandra de água quente!) fomos dar uma volta e jantar. Jantámos numa pizzaria/café perto do albergue, não me lembro do nome do sr. que nos atendeu, mas ele era tão simpático que estivemos muito tempo a conversar e foi agradável... Depois deixámos a Sandra com o seu diário e lá fomos dormir. Já cá estavam um total de 191,92 km divididos po 19.54h a pedalar.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Confissão...

Confesso que não tive oportunidade de vir até ao blogue e partilhar, como a Inês, algumas das nossas peripécias do Caminho! Andei à procura dos meus materiais do Caminho, mas ainda não os encontrei... Tentei escrever um diário durante aqueles fantásticos dias, mas muitas vezes era mais um bi-diário, pois o que queria ao fim de um dia inteiro de pedalar era mesmo descansar e esticar-me ao comprido! ;)
Entretanto, a Inês tem feito uma partilha bastante pormenorizada, havia alguns pormenores dos quais não me lembrava assim tão bem e que graças à Inês, consegui recuperar! Obrigada, linda! :)
Vou continuar à procura do meu bloco...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Fotos da etapa do dia 03/06/2010

O Cebreiro


Venta Celta - O Cebreiro

Um abraço de conforto :=)


Não desanimes! Está quase...

Digam lá, oq ue pensavam diante desta subida? "Mui Locos"

Força!



Na subida para La Faba



Porta do Perdão

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

De Ponferrada a Alto do Poio (03/06/2010) – 67,38Km


Apesar de termos chegado tarde a Ponferrada, acabámos por dormir razoavelmente (eu, pelo menos!), como barulho de fundo tradicional dos albergues, que consiste basicamente em roncos (todos ressonam, que se fartam!) e barulho de sacos plásticos (há sempre alguém a mexer num saco plástico!) outra coisa característica dos albergues é o cheiro! Em quase todos os albergues cheira a “Picalm” um analgésico qualquer que se usa para as dores musculares… Levantámo-nos por volta das 08.00h e com tudo arranjado partimos em direcção ao centro da cidade para tomar o pequeno-almoço. Parámos numa pastelaria em frente ao castelo e nessa pastelaria encontrámos um grupo de ciclistas portugueses, eram muitos, mas ao longo do caminho sempre que nos cruzávamos com eles, víamos que eles não eram peregrinos, eram mais turistas, andavam sem peso na bicicleta, sempre por estrada e com carros de apoio… enfim, são opções!
Nós, carregadinhos, sem apoio e pelos trilhos lá saímos da cidade, em direcção ao caminho.
Ponferrada é a última grande cidade, antes de Santiago. Achei-a uma cidade muito bonita, muito cuidada, aliás todo este caminho na província de León é muito bonito, belas paisagens, aldeias, vilas e cidades bem arranjadas, é muito diferente da Galiza.
No guia que tínhamos do caminho em bicicleta a etapa de hoje previa que fizéssemos de Ponferrada ao Cebreiro. O Cebreiro é uma aldeia típica (uma espécie de Pena!), muito bem preservada, cheia de animação, mas conhecida por ser uma subida terrível, embora a altitude seja inferior à da Cruz de Ferro, a subbida é mais íngreme, a Sandra já conhecia e já nos tinha preparado.
Esta zona entre Ponferrada e Vilafranca Del Bierzo é conhecida por El Bierzo, é uma comarca rica e singular com características diferentes do resto de León, entre elas um microclima que torna esta zona produtiva. Ao longo do caminho passámos por terras e mais terras cheias de árvores de fruto, de vinhas, era um trilho agradável, havia montes de cerejeiras, mas não se preocupem que apesar de sermos tentados, não roubámos nenhuma cereja!...
Algures na subida para Cacabelos tivemos o primeiro e único percalço desta viagem, rebentou a corrente da bicicleta do Fernando (que apesar de ser o que melhor anda, era o que tinha a bicicleta mais fraca!), mas enquanto nós aproveitámos a sombra para descansar, ele munido das suas ferramentas, resolveu o problema e lá seguimos o caminho. Ainda ajudou um espanhol que tinha os travões empenados e que nos fez companhia durante uns km.
À entrada de Vilafranca Del Bierzo existe uma igreja solitária, a igreja de Santiago, com a porta do perdão, nesta igreja “por ordem” do papa Calisto III, era concedido aos peregrinos enfermos ou impedidos de chegar a Santiago e que passassem por esta porta do perdão, recebiam as mesmas indulgencias e perdão que os que chegavam a Santiago. Entrámos na igreja, onde haviam umas projecções muito bonitas, já não me lembro exactamente de quê, mas fiquei com a ideia que era algo agradável. A porta do perdão estava fechada, mas alguém nos disse que devíamos colocar a mão na porta e fazer a nossa oração interior, Este momento foi muito importante para mim, muito místico, perdoei-me a mim própria de uma coisa que fiz e nunca diva ter feito, senti-me mais leve… concerteza com eles também se passou o mesmo, julgo eu… afinal quem de entre nós nunca fez algo de que se arrependeu?
Perto da igreja fica o albergue Avé Fénix, do qual a Sandra tinha boas recordações e lá seguimos em direcção à ciade para almoçar.
Almoçamos em Vilafranca, na praça central numa das muitas esplanadas apinhadas de peregrinos, um almoço leve mas agradável, servido por uma portuguesa, a Maria!
Depois do almoço lá fomos para a parte mais difícil do dia, a subida do Cebreiro. Nesta parte do caminho, o trilho é paralelo à estrada nacional com muito trânsito, muitos camiões e apesar de haver um separador para os peregrinos, a verdade é que vamos demasiado perto, para ser agradável… eu, pessoalmente, detesto caminhar junto de trânsito e de bike é a mesma coisa, além de ser perigoso, é desagradável…
Passada esta fase, lá voltamos aos trilhos normais e devo dizer que desde “Las Herrerias” até “La Faba” foram cerca de 4km terríveis! Estava muito calor e subir debaixo de um sol escaldante é muito mau, por isso, decidimos subir pelo trilho apesar de nos terem dito que éramos loucos, prefiro puxar a bike por um trilho mau mas à sombra, do que subir por alcatrão ao sol… isto pensei eu, antes de subir, mas garanto-vos que o trilho é mesmo muito mau!
Às vezes quase que nem à mão conseguíamos puxar a bicicleta, o Fernando houve uma altura que levava a bike dele e a da Sandra em bocado e voltava atrás para vir buscar a minha! Até que houve uma altura em que ele foi e não voltou para trás, quando lá chegámos estava ele a ajudar uma senhora que gritava porque o músculo da perna tinha saído do sítio, ele estava a massajar a perna da senhora :=) lá esteve montes de tempo e nós lá nos fomos arrastando as duas, nas calmas, para adiantar um bocadinho.
Com muito esforço chegámos a “La Faba” que não é mais que meia dúzia de casas, entre as quais um cafezito que também vendia algumas coisitas de comer e lá nos sentámos à sombra de uma árvore numa tábua que já deve lá estar para isso mesmo e demo-nos ao luxo de comer um gelado!! Entretanto chegaram 3 portugueses que também vinham de bike e como bons portugueses lá estivemos em alegre “combíbio”, antes de nos lançarmos nos últimos 5 km para o Cebreiro. Devo dizer que estes 5 km embora maus, ainda permitiam alternar um bocadinho em cima da bike e outro bocadinho a pé :=) lá fomos andando e pedalando, a paisagem era deslumbrante e chegámos ao Cebreiro a andar! O Cebreiro já pertence à Galiza, algures no meio da subida aparece a placa sinalizadora.
Fomos direitinhos ao albergue, mas como era de prever estava completo e este ano, não deixam ninguém dormir no chão por isso não nos deixaram ficar :=( Aqui perdemos algum tempo à procura das webcam’s da TV Galiza, porque o Paulo estava no computador a ver-nos, lá andámos ao telefone, mas só nos viam de costas, uma confusão :=), foi um bocado engraçado, a tentarmos ver-nos uns aos outros! Obrigado Paulito e Ana!
Entretanto foi escurecendo e nós sem sítio para dormir, ainda procurámos nos albergues privados, mas estava tudo cheio. Fomos comer um caldo galego, o melhor de toda a Galiza, na Venta Celta, muito bom! Enquanto esperávamos pelo caldo, já convencidos de que ainda íamos ter que pedalar mais, fomos ligando para todos os albergues das povoações seguintes, mas estava tudo cheio, só conseguimos um quarto triplo por 60€ no Alto do Poio, no Hostal Santa Maria do Poio (?), ainda eram 8km… Depois do caldo galego, lá reforçamos os agasalhos e partimos em direcção ao Alto do Poio, ainda andámos para aí 1 km em trilho, mas era impossível, não se via nada, nada! Então voltámos à estrada nacional e lá fomos em mais uma daquelas subidas! De noite, com algum frio, não foi fácil! Aqui os nossos coletes sinalizadores foram muito úteis!
Valeu a pena o esforço, para tomar um banho e dormir sem o barulho de fundo dos albergues… Estávamos tão cansados, chegámos por volta da meia noite, o Fernando adormeceu logo e eu, a ultima coisa que me lembro foi ver a Sandra a escrever o diário, que coragem!
Assim se passaram 129.38 km e 13.30 horas a pedalar desde o início.

domingo, 10 de outubro de 2010

De Astorga a Ponferrada (02/06/2010) 62km


A saída de Astorga faz-se por caminhos de terra batida, em alguns sítios paralelos à estrada, por onde se rola bem, pelo menos para nós, afinal estávamos muito fresquinhos! Mais ou menos, porque a noite em Vigo foi curta :=) Ao longo do caminho vão aparecendo muitas cruzes de ferro, que em alguns sítios foram substituidas por cruzes de madeira e vão orientando os peregrinos pelo caminho...
Uma coisa que me impressionou neste inicio, foi a paisagem, totalmente diferente da paisagem da Galiza, paisagens muito bonitas, muitos montes e alguns ainda com neve...
Naquele perfil do caminho que tínhamos introduzido no blogue no início, via-se bem que os primeiros 20km eram sempre a subir, mas lá fomos pedalando nas calmas e chegámos a Rabanal del Camino a meio da tarde, onde parámos para lanchar, numa esplanada de um café, na rua principal... O café chamava-se "El LLAR", a senhora que nos atendeu era muito simpática e andava descalça, com uns pés daqueles que raramente vêem um calçado... a comida tinha um aspecto delicioso e embora um bocadinho cara, soube-nos bem! Enquanto ali estivemos, passaram vários peregrinos, alguns engraçados, um chinês entre eles (este ano achei que havia muitos chineses no caminho).
Após esta paragem, sentimo-nos animados a continuar, tentar chegar a Manjarim, pelo menos, de tal maneira que ao outro dia já não tivessemos muitas subidas (pensávamos nós!). Sempre a subir, lá fomos andando e pelo meio é que nos apercebemos de que estávamos a subir para a "Cruz de Ferro", que é o ponto mais alto de todo o caminho francês, a 1504 m de altitude!
O caminho para lá é muito bonito, uma subida entre montes, e quando chegamos ao cimo de uma subidazorra daquelas que até arrepiam, imaginem o que nos espera? não fazem ideia :=) Um baloiço! pendurado numa árvore, assim, para relaxar as pernas depois da subida. Esta é uma daquelas surpresas do caminho, que só quem lá passa, sabe o quanto é bom!
A Cruz de Ferro, é um dos monumentos mais antigos do Caminho. É uma simples cruz de ferro oxidado cravada em um tronco de madeira sobre pedras depositadas pelos peregrinos que por lá passaram, diz-se que a pedra lá depositada serve para pedir proteção na viagem e na vida.
Alguns peregrinos, sem pedras para depositar, começaram a deixar outros pertences,foi o nosso caso, como não tínhamos pedras, deixamos uma dezena, que eu levava, mas havia lá coisas impressionantes, uma que me marcou foi a fotografia de uma senhora acamada, toda entubada, que tinha um bilhete, como se fosse um filho (a) que a deixou lá, a pedir ajuda para a mãe!
Outra coisa engraçada, era um relógio solar que havia lá na área de descanso, junto à Cruz de Ferro, estivemos a experimentar, tirámos fotos, enchemos o cantil e lá fomos, sempre abrir, porque agora era a descer!
Andam a arranjar os trilhos na descida do Cruz de Ferro, por isso aconselharam-nos a ir pela estrada, porque a descida está em obras e tem muuiiitas pedras, embora nós tentassemos evitar a estrada e andássemos sempre por trilhos, aqui tivemos mesmo que ir e até foi giro, porque como deciamos muito, atingiamos velocidades espectaculares, todos os que gostam de andar de bike, sabem o que é, sentir aquela adrenalina! :=)
Passámos por Manjarim, que tinha um café junto à estrada, muito engraçado, com montes de placas a sinalizar vários caminhos, e como os albergues estavam cheios, continuamos a pedalar...
Estava a escurecer quando passámos por Molinaseca, por isso não nos demorámos muito, mas fiquei com a ideia que era um local muito agradável.

Andando, andando, fomos até Ponferrada! Chegámos lá eram 21.50h, pensando sempre que o albergue fechava às 23h, mas afinal fechava mesmo às 22h e nós ainda não tínhamos comido e estávamos cansados, lá chamaram o hospitaleiro que era um alemão, com ar de mau :) mas que nos deu 3 camas, só que como já passava da hora de fechar o albergue, ele andou sempre atrás de nós a dizer shhhhhh, despachem-se, não façam barulho, mas vá lá, deixou-nos tomar duche, apesar de ter ficado á porta, para se assegurar que não demorávamos mais do que necessário... depois do banho fomos até à cozinha, já que o hospitaleiro não nos deixou sair para comer, tivemos que nos remediar e comer os restos que os outros peregrinos deixaram, já não me lembro bem, mas foi um pão que já não era fresco, que dividimos pelos três, juntamente com umas fatias de fiambrina e fruta (sempre com o hospitaleiro atrás de nós!)
Depois de comer ele foi com uma pilha dizer-nos onde eram os beliches e ficou lá a iluminar até estarmos deitados, só depois é que saiu do quarto... Bem que vimos, uma placa a sinalizar a NET e pensamos no blogue, mas com ele atrás de nós... Nem pensar!
E assim se passou o primeiro dia, que se bem se lembram começou às 05h da manhã em Vigo e terminou às 22.30h, já em Ponferrada depois de 62 km feitos...

sábado, 9 de outubro de 2010

Algumas fotos deste primeiro dia!


Para onde querem ir?



A cruz de ferro


Vai uma volta de baloiço?!


Subida para a Cruz de Ferro

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

De volta!!! :)

Impulsionada pela vontade da Inês, cá estou eu!!! :) Em primeiro lugar, pedir desculpa a todos os nossos fiéis leitores pela nossa ausência (minha, em particular)! Ainda que tenha sido um projecto muito querido, nem sempre os nossos afazeres diários nos permitem dedicar alguns minutos ao nosso blogue!
Assim, mais logo, vou pegar no meu diário, recordar momentos e partilhar com todos vós o que foi a nossa grande aventura até Santiago by bike!
Até logo!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Astorga, uma cidade encantadora!

Como sabem, não tínhamos nenhum motivo especial para ter começado esta aventura em Astorga, a não ser o facto de a Sandra achar que "Astorga, é brutal!", mas quando chegámos, verificámos com agrado, que realmente é uma cidade espectacular ou como diria a Sandrita "Brutal!"
A cidade é muito bonita, fomos da estação directos ao Albergue, que também é igualmente bonito e fica junto à zona das antigas ruínas da cidade e já depois de equipados a rigor, decidimos partir em direcção ao caminho...
Queríamos explorar um bocadinho a cidade e assim o fizemos embora não tão bem como queríamos, por falta de tempo e também porque a hora que tínhamos disponivel correspondia exactamente com a hora de "la siesta!!...

Visitámos alguns monumentos, como o palácio de Gaudi, que agora é um museu, mas foi incialmente um palácio medieval e depois doado ao bispo local, vindo a tornar-se residência episcopal. O edifício actual, iniciou a construção no final do século XIX, sob a supervisão do genial Gaudi. Quase no final, por problemas políticos, a obra ficou sem os arremates finais. Atualmente está totalmente terminado e restaurado e é uma das mais grandiosas e bonitas obras desse arquitecto genial.
Após a breve visita pela cidade, que nos deixou com uma enorme vontade de voltar, onde também foi incluída a catedral, iniciámos o caminho, sem destino, mas na esperança de irmos andando enquanto aguentássemos, até arranjar um sítio para pernoitar...

Fotos de Astorga