domingo, 10 de outubro de 2010

De Astorga a Ponferrada (02/06/2010) 62km


A saída de Astorga faz-se por caminhos de terra batida, em alguns sítios paralelos à estrada, por onde se rola bem, pelo menos para nós, afinal estávamos muito fresquinhos! Mais ou menos, porque a noite em Vigo foi curta :=) Ao longo do caminho vão aparecendo muitas cruzes de ferro, que em alguns sítios foram substituidas por cruzes de madeira e vão orientando os peregrinos pelo caminho...
Uma coisa que me impressionou neste inicio, foi a paisagem, totalmente diferente da paisagem da Galiza, paisagens muito bonitas, muitos montes e alguns ainda com neve...
Naquele perfil do caminho que tínhamos introduzido no blogue no início, via-se bem que os primeiros 20km eram sempre a subir, mas lá fomos pedalando nas calmas e chegámos a Rabanal del Camino a meio da tarde, onde parámos para lanchar, numa esplanada de um café, na rua principal... O café chamava-se "El LLAR", a senhora que nos atendeu era muito simpática e andava descalça, com uns pés daqueles que raramente vêem um calçado... a comida tinha um aspecto delicioso e embora um bocadinho cara, soube-nos bem! Enquanto ali estivemos, passaram vários peregrinos, alguns engraçados, um chinês entre eles (este ano achei que havia muitos chineses no caminho).
Após esta paragem, sentimo-nos animados a continuar, tentar chegar a Manjarim, pelo menos, de tal maneira que ao outro dia já não tivessemos muitas subidas (pensávamos nós!). Sempre a subir, lá fomos andando e pelo meio é que nos apercebemos de que estávamos a subir para a "Cruz de Ferro", que é o ponto mais alto de todo o caminho francês, a 1504 m de altitude!
O caminho para lá é muito bonito, uma subida entre montes, e quando chegamos ao cimo de uma subidazorra daquelas que até arrepiam, imaginem o que nos espera? não fazem ideia :=) Um baloiço! pendurado numa árvore, assim, para relaxar as pernas depois da subida. Esta é uma daquelas surpresas do caminho, que só quem lá passa, sabe o quanto é bom!
A Cruz de Ferro, é um dos monumentos mais antigos do Caminho. É uma simples cruz de ferro oxidado cravada em um tronco de madeira sobre pedras depositadas pelos peregrinos que por lá passaram, diz-se que a pedra lá depositada serve para pedir proteção na viagem e na vida.
Alguns peregrinos, sem pedras para depositar, começaram a deixar outros pertences,foi o nosso caso, como não tínhamos pedras, deixamos uma dezena, que eu levava, mas havia lá coisas impressionantes, uma que me marcou foi a fotografia de uma senhora acamada, toda entubada, que tinha um bilhete, como se fosse um filho (a) que a deixou lá, a pedir ajuda para a mãe!
Outra coisa engraçada, era um relógio solar que havia lá na área de descanso, junto à Cruz de Ferro, estivemos a experimentar, tirámos fotos, enchemos o cantil e lá fomos, sempre abrir, porque agora era a descer!
Andam a arranjar os trilhos na descida do Cruz de Ferro, por isso aconselharam-nos a ir pela estrada, porque a descida está em obras e tem muuiiitas pedras, embora nós tentassemos evitar a estrada e andássemos sempre por trilhos, aqui tivemos mesmo que ir e até foi giro, porque como deciamos muito, atingiamos velocidades espectaculares, todos os que gostam de andar de bike, sabem o que é, sentir aquela adrenalina! :=)
Passámos por Manjarim, que tinha um café junto à estrada, muito engraçado, com montes de placas a sinalizar vários caminhos, e como os albergues estavam cheios, continuamos a pedalar...
Estava a escurecer quando passámos por Molinaseca, por isso não nos demorámos muito, mas fiquei com a ideia que era um local muito agradável.

Andando, andando, fomos até Ponferrada! Chegámos lá eram 21.50h, pensando sempre que o albergue fechava às 23h, mas afinal fechava mesmo às 22h e nós ainda não tínhamos comido e estávamos cansados, lá chamaram o hospitaleiro que era um alemão, com ar de mau :) mas que nos deu 3 camas, só que como já passava da hora de fechar o albergue, ele andou sempre atrás de nós a dizer shhhhhh, despachem-se, não façam barulho, mas vá lá, deixou-nos tomar duche, apesar de ter ficado á porta, para se assegurar que não demorávamos mais do que necessário... depois do banho fomos até à cozinha, já que o hospitaleiro não nos deixou sair para comer, tivemos que nos remediar e comer os restos que os outros peregrinos deixaram, já não me lembro bem, mas foi um pão que já não era fresco, que dividimos pelos três, juntamente com umas fatias de fiambrina e fruta (sempre com o hospitaleiro atrás de nós!)
Depois de comer ele foi com uma pilha dizer-nos onde eram os beliches e ficou lá a iluminar até estarmos deitados, só depois é que saiu do quarto... Bem que vimos, uma placa a sinalizar a NET e pensamos no blogue, mas com ele atrás de nós... Nem pensar!
E assim se passou o primeiro dia, que se bem se lembram começou às 05h da manhã em Vigo e terminou às 22.30h, já em Ponferrada depois de 62 km feitos...

Sem comentários:

Enviar um comentário