segunda-feira, 11 de outubro de 2010

De Ponferrada a Alto do Poio (03/06/2010) – 67,38Km


Apesar de termos chegado tarde a Ponferrada, acabámos por dormir razoavelmente (eu, pelo menos!), como barulho de fundo tradicional dos albergues, que consiste basicamente em roncos (todos ressonam, que se fartam!) e barulho de sacos plásticos (há sempre alguém a mexer num saco plástico!) outra coisa característica dos albergues é o cheiro! Em quase todos os albergues cheira a “Picalm” um analgésico qualquer que se usa para as dores musculares… Levantámo-nos por volta das 08.00h e com tudo arranjado partimos em direcção ao centro da cidade para tomar o pequeno-almoço. Parámos numa pastelaria em frente ao castelo e nessa pastelaria encontrámos um grupo de ciclistas portugueses, eram muitos, mas ao longo do caminho sempre que nos cruzávamos com eles, víamos que eles não eram peregrinos, eram mais turistas, andavam sem peso na bicicleta, sempre por estrada e com carros de apoio… enfim, são opções!
Nós, carregadinhos, sem apoio e pelos trilhos lá saímos da cidade, em direcção ao caminho.
Ponferrada é a última grande cidade, antes de Santiago. Achei-a uma cidade muito bonita, muito cuidada, aliás todo este caminho na província de León é muito bonito, belas paisagens, aldeias, vilas e cidades bem arranjadas, é muito diferente da Galiza.
No guia que tínhamos do caminho em bicicleta a etapa de hoje previa que fizéssemos de Ponferrada ao Cebreiro. O Cebreiro é uma aldeia típica (uma espécie de Pena!), muito bem preservada, cheia de animação, mas conhecida por ser uma subida terrível, embora a altitude seja inferior à da Cruz de Ferro, a subbida é mais íngreme, a Sandra já conhecia e já nos tinha preparado.
Esta zona entre Ponferrada e Vilafranca Del Bierzo é conhecida por El Bierzo, é uma comarca rica e singular com características diferentes do resto de León, entre elas um microclima que torna esta zona produtiva. Ao longo do caminho passámos por terras e mais terras cheias de árvores de fruto, de vinhas, era um trilho agradável, havia montes de cerejeiras, mas não se preocupem que apesar de sermos tentados, não roubámos nenhuma cereja!...
Algures na subida para Cacabelos tivemos o primeiro e único percalço desta viagem, rebentou a corrente da bicicleta do Fernando (que apesar de ser o que melhor anda, era o que tinha a bicicleta mais fraca!), mas enquanto nós aproveitámos a sombra para descansar, ele munido das suas ferramentas, resolveu o problema e lá seguimos o caminho. Ainda ajudou um espanhol que tinha os travões empenados e que nos fez companhia durante uns km.
À entrada de Vilafranca Del Bierzo existe uma igreja solitária, a igreja de Santiago, com a porta do perdão, nesta igreja “por ordem” do papa Calisto III, era concedido aos peregrinos enfermos ou impedidos de chegar a Santiago e que passassem por esta porta do perdão, recebiam as mesmas indulgencias e perdão que os que chegavam a Santiago. Entrámos na igreja, onde haviam umas projecções muito bonitas, já não me lembro exactamente de quê, mas fiquei com a ideia que era algo agradável. A porta do perdão estava fechada, mas alguém nos disse que devíamos colocar a mão na porta e fazer a nossa oração interior, Este momento foi muito importante para mim, muito místico, perdoei-me a mim própria de uma coisa que fiz e nunca diva ter feito, senti-me mais leve… concerteza com eles também se passou o mesmo, julgo eu… afinal quem de entre nós nunca fez algo de que se arrependeu?
Perto da igreja fica o albergue Avé Fénix, do qual a Sandra tinha boas recordações e lá seguimos em direcção à ciade para almoçar.
Almoçamos em Vilafranca, na praça central numa das muitas esplanadas apinhadas de peregrinos, um almoço leve mas agradável, servido por uma portuguesa, a Maria!
Depois do almoço lá fomos para a parte mais difícil do dia, a subida do Cebreiro. Nesta parte do caminho, o trilho é paralelo à estrada nacional com muito trânsito, muitos camiões e apesar de haver um separador para os peregrinos, a verdade é que vamos demasiado perto, para ser agradável… eu, pessoalmente, detesto caminhar junto de trânsito e de bike é a mesma coisa, além de ser perigoso, é desagradável…
Passada esta fase, lá voltamos aos trilhos normais e devo dizer que desde “Las Herrerias” até “La Faba” foram cerca de 4km terríveis! Estava muito calor e subir debaixo de um sol escaldante é muito mau, por isso, decidimos subir pelo trilho apesar de nos terem dito que éramos loucos, prefiro puxar a bike por um trilho mau mas à sombra, do que subir por alcatrão ao sol… isto pensei eu, antes de subir, mas garanto-vos que o trilho é mesmo muito mau!
Às vezes quase que nem à mão conseguíamos puxar a bicicleta, o Fernando houve uma altura que levava a bike dele e a da Sandra em bocado e voltava atrás para vir buscar a minha! Até que houve uma altura em que ele foi e não voltou para trás, quando lá chegámos estava ele a ajudar uma senhora que gritava porque o músculo da perna tinha saído do sítio, ele estava a massajar a perna da senhora :=) lá esteve montes de tempo e nós lá nos fomos arrastando as duas, nas calmas, para adiantar um bocadinho.
Com muito esforço chegámos a “La Faba” que não é mais que meia dúzia de casas, entre as quais um cafezito que também vendia algumas coisitas de comer e lá nos sentámos à sombra de uma árvore numa tábua que já deve lá estar para isso mesmo e demo-nos ao luxo de comer um gelado!! Entretanto chegaram 3 portugueses que também vinham de bike e como bons portugueses lá estivemos em alegre “combíbio”, antes de nos lançarmos nos últimos 5 km para o Cebreiro. Devo dizer que estes 5 km embora maus, ainda permitiam alternar um bocadinho em cima da bike e outro bocadinho a pé :=) lá fomos andando e pedalando, a paisagem era deslumbrante e chegámos ao Cebreiro a andar! O Cebreiro já pertence à Galiza, algures no meio da subida aparece a placa sinalizadora.
Fomos direitinhos ao albergue, mas como era de prever estava completo e este ano, não deixam ninguém dormir no chão por isso não nos deixaram ficar :=( Aqui perdemos algum tempo à procura das webcam’s da TV Galiza, porque o Paulo estava no computador a ver-nos, lá andámos ao telefone, mas só nos viam de costas, uma confusão :=), foi um bocado engraçado, a tentarmos ver-nos uns aos outros! Obrigado Paulito e Ana!
Entretanto foi escurecendo e nós sem sítio para dormir, ainda procurámos nos albergues privados, mas estava tudo cheio. Fomos comer um caldo galego, o melhor de toda a Galiza, na Venta Celta, muito bom! Enquanto esperávamos pelo caldo, já convencidos de que ainda íamos ter que pedalar mais, fomos ligando para todos os albergues das povoações seguintes, mas estava tudo cheio, só conseguimos um quarto triplo por 60€ no Alto do Poio, no Hostal Santa Maria do Poio (?), ainda eram 8km… Depois do caldo galego, lá reforçamos os agasalhos e partimos em direcção ao Alto do Poio, ainda andámos para aí 1 km em trilho, mas era impossível, não se via nada, nada! Então voltámos à estrada nacional e lá fomos em mais uma daquelas subidas! De noite, com algum frio, não foi fácil! Aqui os nossos coletes sinalizadores foram muito úteis!
Valeu a pena o esforço, para tomar um banho e dormir sem o barulho de fundo dos albergues… Estávamos tão cansados, chegámos por volta da meia noite, o Fernando adormeceu logo e eu, a ultima coisa que me lembro foi ver a Sandra a escrever o diário, que coragem!
Assim se passaram 129.38 km e 13.30 horas a pedalar desde o início.

1 comentário:

  1. Este dia foi, como todos os outros, alucinante!!! Só de me lembrar que nos "insultaram" de "locos... mui locos" só de querermos subir até La Faba... mas valeu bem o esforço! Obrigada a ti, Inês, e a ti, Fernando, por toda a força que me deram nesta e em todas as outras etapas! :) Gosto muito de vocês!

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